Esther Mahlangu, o grande nome da arte tribal da África do Sul

A artista Esther Mahlangu foi a responsável por levar ao mundo a estética dos ndebeles, uma das principais expressões do design tribal da África do Sul.

Atualizado em 9/12/2025

Índice

Quem é Esther Mahlangu

A doutora Esther Mahlangu nasceu no interior da província de Mpumalanga, no leste da África do Sul. Hoje com 90 anos, já se reconhecia como uma artista (e das boas) desde os 10. Foi com essa idade que começaram as aulas de pintura com a mãe e a avó.

Segundo a tradição, era um treinamento para posteriormente pintar os muros com os padrões coloridos dos ndebeles. Só que a pequena Esther “avançou o sinal”.

“Quando meus pais pararam de pintar a casa e saíram para descansar, continuei a pintura. Ao voltar, disseram: ‘O que você fez? Não faça isso nunca mais!’

Depois disso, passei a fazer meus desenhos na parte de trás da casa. Aos poucos, meus desenhos foram melhorando. Até que eles me pediram para voltar à frente da casa. Ali, eu soube que era boa com pinturas” – Depoimento de Esther exibido em uma parede da exposição de 2024 na Cidade do Cabo

A grande sacada de Esther Mahlangu foi levar para outros contextos aquelas formas geométricas e cores dos muros e miçangas para outros contextos, como telas e esculturas.

A fama mundial veio no final dos anos 80, quando teve suas obras exibidas na França. A partir daí, vieram colaborações com marcas como a BMW e a brasileira Melissa.

Exposição South African Gallery
Miniatura da casa de Esther

Técnica

Em 2018, a equipe da Record foi até seu vilarejo, um local de difícil acesso na província de Mpumalanga. O ótimo trabalho de Marcus Reis e equipe registrou a sua vida simples, mesmo sendo reconhecida no mundo todo. A matéria mostrou a artista em ação, pintando com uma pena de galinha.

No entanto, nem todos os materiais são os mesmos de quando ela pintava na infância.

Quando eu era pequena e comecei a pintar casas com a minha mãe, sempre usava pigmentos naturais e esterco de vaca, mas quando formos apresentadas às tintas, tão coloridas e brilhantes, decidi que passaria a usá-las. Não dá para levar esterco de vaca quando viajo ou ensino pessoas a pintar.

Então, tenho improvisado na mistura de tintas para representar as cores dos pigmentos tradicionais. Ainda uso o estilo tradicional de pintura em alguns trabalhos para honrar quem veio antes de mim.

Quando mais cores ficam disponíveis, mais quero usá-las. E isso diferencia meu trabalho de outras obras tradicionais ndebeles. – Depoimento de Esther exibido em uma parede da exposição de 2024 na Cidade do Cabo

Legado

Pelos depoimentos em vídeo e texto na exposição de 2024, percebi que Esther não abre mão da tarefa de passar adiante as tradições ndebele. Ensinando jovens a pintar, quer manter viva a cultura de seu povo.

“Através da minha arte, conheci o mundo. Em troca, o mundo aprendeu sobre minha herança ndebele. Eu falo (a língua) isiNdebele, eu ando isiNdebele, eu visto isiNdebele. É a minha cultura” – Depoimento de Esther exibido em uma parede da exposição de 2024 na Cidade do Cabo

Conhecendo Esther Mahlangu

Conheci a doutora Esther Mahlangu em maio de 2017, no último dia da Indaba, a maior conferência de turismo da África. Usando uma roupa tradicional e anéis no pescoço, ela tinha a companhia de outra mulher ndebele. Nos momentos mais calmos, confeccionava peças de artesanato com miçangas, diante de uma mesa repleta de produtos.

Na véspera, passei algumas vezes na frente do stand no qual ela era a atração, mas todo o assédio de fãs e imprensa me inibia.

Somente na manhã seguinte criei coragem para abordá-la. Ao pedir uma foto, a sorridente velhinha mostrou que não é boba: “claro que pode (tirar uma fotografia com ela), também pode comprar algo…”.

Eu não desperdiçaria a chance de adquirir algo criado por gogo Esther. A pulseira feita por ela está na minha mesa de cabeceira.

Esther Mahlangu

Doutora Esther e o mundo

Um evento em abril de 2018 serviu para mostrar o tamanho de Esther Mahlangu. O Departamento de Artes, Design e Arquitetura da Universidade de Joanesburgo concedeu a ela o título de doutora honoris causa. Foi um reconhecimento a seu legado como “empreendedora cultural em nível local e global, e a seu papel como educadora.”

“Descoberta” nos anos 80, a doutora já teve seus trabalhos expostos em lugares como Paris e Nova York. A artista também colaborou com um rol bem diversificado de marcas, como Melissa e BMW.

Na edição de 2009 da São Paulo Fashion Week, a empresa brasileira lançou uma série de 4 mil pares do modelo UltraGirl com uma estampa desenhada pelo maior nome do design tribal sul-africano – e Vovó Esther estava lá.

Esther Mahlangu - Sandália Melissa

Já na colaboração com a montadora bávara, Mahlangu levou suas cores e formas geométricas a um modelo 525i, transformando o sedã em uma obra de arte em 1991. Com isso, ela se juntou a outros nomes consagrados, como Andy Warhol e Roy Lichtenstein, que também criaram Art Cars para a BMW.

Em 2017, gogo Esther recebeu outro convite dos alemães. Dessa vez, para criar desenhos para o interior de um 705 Li.

Exposição na Cidade do Cabo

A South African National Gallery recebeu, em 2024, uma exposição com a retrospectiva da carreira de Esther Mahlangu. Estive na mostra em março e fiquei encantado. Para saber mais sobre a experiência, confira o post que fiz sobre a minha visita.


Pedro Leonardo
Pedro Leonardo

Carioca, jornalista, SA Specialist certificado pela South African Tourism.

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