- Obras de gogo Esther Mahlangu são exibidas na South African National Gallery
- Exposição traz retrospectiva do trabalho do grande nome da arte tribal sul-africana
- Mostra levou à África do Sul a icônica BMW decorada por Vovó Esther

Quando pintei o capacete que uso no kart, a intenção era fazer uma referência à África do Sul. Depois de inúmeros rascunhos, fui simplificando o desenho e concluí que homenagear Esther Mahlangu seria o melhor caminho. Esse processo todo me fez perceber que tenho uma artista favorita – me senti muito culto. E isso deu um sabor todo especial à ida em sua exposição na South African National Gallery meses depois.
Foi emocionante reconhecer algumas de suas telas e encontrar referências que usei. Um exemplo é o parachoque da BMW pintada por Esther Mahlangu. As suas quinas me ajudaram a superar uma dificuldade: como desenhar essas formas geométricas, cheias de retas, na parte superior – e arredondada – do capacete.

A exposição
Intitulada “‘Then I Knew I Was Good at Painting: Esther Mahlangu, A Retrospective”, a mostra fica em cartaz na South African National Gallery, na Cidade do Cabo, até 11 de agosto. Como o nome diz, é uma retrospectiva do trabalho do grande nome da arte tribal da África do Sul. Já a curadoria fica por conta de Nontobeko Ntombela, da Wits School of Arts. Depois de Cape Town, a exposição passará por Joanesburgo antes de cruzar o oceano rumo aos Estados Unidos.
Além das obras, há textos explicativos nas paredes e um depoimento em vídeo. Tudo isso faz o visitante viajar pela jornada de Esther desde a infância, quando já pintava paredes na sua casa. O trunfo da artista foi levar esse estilo dos ndebeles para outros contextos, e a exposição mostra quase todos eles. Já as peças que não estão na SA National Gallery aparecem em um mural com fotos e reportagens do mundo todo.
Apesar de já conhecer seu trabalho há algum tempo, foi interessante descobrir como ela se permite inovar, abraça novas técnicas, sempre se mantendo fiel à estética ndebele.
Veja também: Encaixando a exposição de Esther Mahlangu no seu roteiro
O título da exposição
Um dos textos nas paredes traz uma citação de Esther Mahlangu, na qual ela explica como descobriu seu dom ainda na infância. É dali que surgiu o nome da exposição.
“Quando meus pais pararam e saíram para descansar, comecei a pintar a casa. Ao voltarem, disseram: ‘O que você fez? Não faça isso nunca mais!’
Depois disso, passei a fazer meus desenhos na parte de trás da casa. Aos poucos, meus desenhos foram melhorando. Até que eles me pediram para voltar à frente da casa. Ali, eu soube que era boa com pinturas” – Esther Mahlangu
Destaques
A grande estrela do acervo é a BMW 525i 1991, que estava há mais de 30 anos longe da África do Sul. O sedã, aliás, teve que ser içado para dentro da galeria de arte. Esse modelo faz parte da série Art Car, na qual artistas do calibre de Esther Mahlangu, Andy Warhol e Roy Lichtenstein colaboraram com a marca alemã.

Já a parede que reúne dezenas de telas da artista sul-africana é hipnotizante. O mais legal é que ela escreve o ano ao lado da sua assinatura e, assim, dá pra ver que algumas obras são bem recentes.
Também sugiro que você se sente diante do telão e assista ao vídeo com um longo depoimento de vovó Esther. É tocante ouvir a sua voz contando sua história e, especialmente, quando ela se percebeu como artista e talentosa.
Esther Mahlangu e o Brasil
Há um pouquinho de Brasil nessa exposição na SA National Gallery. No setor que mostra referências a Esther mundo afora, há uma imagem da sapatilha UltraGirl, da Melissa, com uma estampa desenhada por ela. O modelo foi criado para a edição de 2009 da São Paulo Fashion Week, evento que contou com a presença da artista.

Quem é Esther Mahlangu
Hoje com 88 anos, Esther começou a pintar aos 10. Na tradição dos ndebeles, as mulheres decoram as fachadas das casas com formas geométricas e muitas cores. Entretanto, a sul-africana foi além e levou a arte de sua tribo a outros contextos, como telas e carpetes.
“Descoberta” nos anos 80, gogo Esther Mahlangu já teve seus trabalhos expostos em lugares como Paris e Nova York. A artista também colaborou com um rol bem diversificado de marcas, como Melissa e BMW. Na edição de 2009 da São Paulo Fashion Week, a empresa brasileira lançou uma série de 4 mil pares do modelo UltraGirl com uma estampa desenhada pelo maior nome do design tribal sul-africano.
Já em abril de 2018, o Departamento de Artes, Design e Arquitetura da Universidade de Joanesburgo concedeu a ela o título de doutora honoris causa. Foi um reconhecimento a seu legado como “empreendedora cultural em nível local e global, e a seu papel como educadora.”
Serviço
Exposição “Then I Knew I Was Good at Painting: Esther Mahlangu, A Retrospective”
- Quando: De 18 de fevereiro a 11 de agosto.
- Onde: South African National Gallery. Government Avenue, Company’s Garden, Cape Town.
- A galeria abre diariamente entre 9h e 17h. Entrada: 60 rand.
- Como chegar: Uber ou ônibus MyCiti (parada Groote Kerk, linhas 106, 107 e 113). Em março de 2024, eu estava no hostel Never at Home (Kloof Street) e fui a pé até lá.
Planeje sua viagem com os parceiros do site
O Bastante Sotaque é uma iniciativa independente, com conteúdo 100% gratuito, e isso demanda tempo e custos. Por isso, quando você planeja sua viagem com os parceiros do site, você ajuda a mantê-lo.
- Cartão de débito internacional: Wise
- Guia de viagem: Guia Se Lança para África do Sul
- Emissão de passagens internacionais: Mari Magalhães (asmelhorestarifas@gmail.com)
- Seguro Viagem: Real
- Aluguel de carros: Rentcars
- Reservas de passeios: GetYourGuide
Saiba mais sobre as parcerias do Bastante Sotaque.