Na mídia: Minha matéria na “Revista Propaganda”

Tenho muito orgulho de ser um embaixador voluntário da África do Sul. Este lugar me deu tanto que nem sei como retribuir.

Por isso, foi um prazer gigante escrever um artigo de quatro páginas para a seção de Viagem da Revista Propaganda.
O texto é longo, eu sei, mas está aqui para quem quiser conferir o que saiu na edição de junho (se alguém souber onde encontrar, conta aí!).

“Antes de embarcar para Johanesburgo, em agosto de 2011, era meio comum ouvir a pergunta “Mas a África?”, geralmente, acompanhada por uma careta. Sim, eu estava indo para a África. Do Sul. E agora, quase dois anos depois da minha rápida, porém intensa passagem por aquele país, fico ainda mais orgulhoso da minha escolha.

No meu caso, pesaram o preço mais em conta dos cursos de inglês e a imagem positiva que a África do Sul havia deixado após a Copa do Mundo de 2010. Eu também estava muito curioso para conhecer a chamada “Nação Arco-Íris” arquitetada por Nelson Mandela. Sem falar no Vasco Cape Town, criado em homenagem ao meu clube do coração. Ah, e mais um nome: tubarão-branco. Pronto, eu já tinha motivos fortes o suficiente para pegar o avião da South African Airways.
Naqueles dois meses, vi de perto uma deliciosa mistura de idiomas e sotaques, além de ter conhecido um povo pra lá de hospitaleiro, que está muito interessado na sua opinião sobre o país e no porquê da escolha.
E foi no aeroporto de Johanesburgo – última escala antes de Cape Town – que tive a primeira amostra da grande admiração que os sul-africanos têm pelo Brasil. Ouvi muitos comentários bem-humorados das balconistas que leram meu nome no cartão de crédito.
“Pedro… Leonardo… Vocês, brasileiros, têm todos nomes assim!”, disse uma sorridente vendedora.
Na mesma loja, ouvi a primeira das várias referências ao futebol pentacampeão do mundo.
“Ah, Brasil! Pelé! Ronaldo! Romário! Bebeto!”, brincou a outra balconista, que provavelmente não tinha idade para ter visto este último em campo.
Já no voo para Cape Town, meu “single-serving friend” era Nick, um publicitário de Johanesburgo, que conhecia a Argentina e com quem conversei bastante naquelas duas horas. Falamos sobre esportes, política e Copa do Mundo.

Numa prova da hospitalidade sul-africana, ele se ofereceu para trocar de lugar comigo: “Sente na janela! É sua primeira vez no país, certo? Então, olhe a paisagem!”.
Antes de nos despedirmos na esteira da bagagens, ele ainda fez uma piada:
“Nós temos um jogo aqui nos aeroportos. Você tem que adivinhar se sua mala vai aparecer. Nunca sabemos se ela virá”, disse. Familiar, não?
Nas primeiras horas de Cape Town já me senti na “Rainbow Nation” de Mandela. O bairro da minha residência estudantil era muçulmano e meus novos vizinhos vinham de Alemanha, França, Espanha e Angola.
Se você tem algum receio deste contato com a galera de outros países, fique tranquilo. Uma das melhores coisas sobre intercâmbio é a predisposição que as pessoas têm para se conhecer. O bom é que assunto nunca falta: idiomas, cultura, costumes, esportes…
Já para falar dos programas para se fazer naquele país, preciso citar a frase do dono de um albergue de Plettenberg Bay.
“Na África do Sul, o tempo nunca é suficiente”, disse, ao se referir à quantidade absurda de atrações que o turista encontra. Foram palavras que me deram a certeza que ainda voltarei lá, pois ainda tenho muito a conhecer.
Na minha viagem, destaco o mergulho com tubarões-brancos em Gansbaai, o melhor lugar do mundo para observar estes adoráveis animais. Quase congelei no mar e fiquei mais da metade do passeio enjoado, mas estes probleminhas não foram nada diante do momento mais intenso que já vivi.
É que sua vida muda após aqueles longos segundos em que um tubarão passa lentamente à sua frente. Ele tem 5 metros, mas a impressão é que estamos diante de um trem. Não há tempo nem para sentir medo ou pensar na temperatura da água. Você olha para a fera e suas cicatrizes, fica apreensivo, pensando se ele vai tentar morder a gaiola ou balançar a cauda.
Vale lembrar que este tipo de mergulho é extremamente seguro e, até hoje, não houve registro de acidentes.
Outro programa inesquecível foi o passeio em meio aos elefantes em Knysna. Extremamente dóceis e carismáticos, formam uma família comandada pela matriarca Sally. Foi o ponto alto da minha Garden Route, nome dado à rota que parte de Cape Town em direção ao leste do país.

Outro ponto positivo da África do Sul é a gastronomia. Há restaurantes de todos os tipos e, a grande maioria, com preços acessíveis. É possível fazer refeições generosas em lugares excelentes gastando cerca de R$ 30.
Minha grande dica neste quesito é o mercado das manhãs de sábado no Old Biscuit Mill. Chegue em jejum a este simpático lugar do bairro de Woodstock. Com tantas delícias e uma trilha sonora surpreendente, elegi este o meu cantinho preferido do planeta.
Entretanto, a vida na terra de Nelson Mandela não é apenas de Table Mountain, bons restaurantes e vinhos deliciosos. As consequências da época do apartheid ainda são vistas em vários cantos.
A começar pelas townships. Versão sul-africana das favelas, elas são guetos afastados das áreas centrais, onde os negros ficavam confinados. No caminho para Gansbaai, por exemplo, fiquei impressionado com o número de comunidades que apareciam, do nada, na estrada.
Tive a oportunidade de visitar duas destas áreas. A primeira fazia parte do roteiro do city tour do ônibus vermelho. Programa de turista, segurança total.
Já a segunda foi uma inconsequente jornada de um apaixonado por futebol: atravessei a township de Philippi para assistir a um jogo da segunda divisão do Campeonato Sul-Africano. O Vasco Cape Town entraria em campo e comparecer a uma de suas partidas estava no topo da minha lista de afazeres. Como missão dada é missão cumprida, vivi esta aventura em um domingo frio e chuvoso. Obviamente, por mais que tenha valido a pena, não recomendo a ninguém um programa assim. Corri um risco desnecessário e abusei da sorte, mas que foi divertido, isso foi.

Em relação ao racismo, confesso que não vi nenhum caso de conflito durante aqueles dois meses. O que notei entre a população negra mais pobre foi um certo excesso de subserviência. Um exemplo é a surpresa que eu causava nos taxistas quando começava a conversar com eles. Felizmente, depois deste choque, o papo fluía e eu conseguia algumas informações interessantes sobre a cidade.
A tendência é que este clima estranho diminua cada vez mais, de forma gradual. Percebi que as pessoas mais jovens, que nasceram junto com a nação unida por Mandela, têm uma mentalidade diferente dos antepassados. A população tem bastante orgulho de sua Constituição moderna e parece estar feliz com os rumos que as coisas estão tomando.
Mesmo que a “Nação Arco-Íris” ainda esteja em construção, trata-se de um lugar incrível, onde o extraordinário está sempre muito perto. Por isso, não me canso de recomendá-lo. Até hoje, cuido com muito carinho do meu blog sobre a África do Sul (bastantesotaque.com), que já ajudou muita gente.
Em Cape Town, vi várias vidas serem transformadas. Pessoas que estavam lá para se reencontrar, buscar força para um recomeço na vida, e acabaram tendo êxito em suas missões.
No meu caso, trouxe na bagagem muito mais do que um inglês afinadíssimo e algumas palavras em xhosa. A mudança para São Paulo e a vaga que consegui na agência Rae,MP são algumas das principais consequências desta aventura sul-africana e das amizades que atravessaram o oceano. Quando o assunto é transformar uma vida, a África do Sul não brinca em serviço.”

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