O que fazer em Durban: Jogo de futebol no estádio da Copa

O jogo de futebol entre África do Sul e Sudão, em Durban, era importante e, como eu estava no país, não poderia perder. Veja como foi minha experiência no estádio Moses Mabhida.

Futebol é sempre uma prioridade nas minhas viagens. Ao fazer um roteiro, sempre dou uma olhada em tabelas de campeonatos e vejo se é possível conhecer estádios. Acaba sendo uma forma eficiente de fugir do roteiro mais turístico e fazer um programa típico dos locais.

Na viagem de 2014, não foi diferente. Tanto que mudei meus planos para assistir ao jogo entre a seleção da casa e o Sudão em Durban.

Mudanças

Inicialmente, a ideia era passar o sábado pós-safári conhecendo Joanesburgo. Seria meu único dia inteiro na cidade. E aí, pegaria um Baz Bus para Durban, numa viagem que duraria todo o domingo.

Porém, uma tragédia acabou forçando a primeira mudança no roteiro. Quando eu ainda estava no Brasil, o goleiro do Orlando Pirates e reserva da seleção sul-africana, Senzo Meyiwa, foi assassinado numa cidade perto de Joanesburgo.

A morte foi bastante sentida no país, já que, além de jogar em um dos clubes mais populares, Senzo vinha sendo capitão dos Bafana Bafana – Itumeleng Khune, o titular, estava lesionado.

Como ele nasceu na província de Kwazulu-Natal, onde fica Durban, acabaram transferindo o jogo de Nelspruit (perto do Kruger) para o estádio Moses Mabhida. Por isso, a partida passou a ter ares de tributo.

Com a nova mudança, comprei a passagem Joanesburgo-Durban ainda no Brasil. Já o ingresso foi comprado em Joburg, no Checkers – rede de hipermercados que vende entradas para vários tipos de evento.

Estádio Moses Mabhida - Durban, África do Sul
Um dos arcos do estádio Moses Mabhida. A escada para a plataforma do swing jump fica do outro lado.

Pré-jogo

Antes de ir para o estádio, passei no hotel Marahani para dar um abraço no meu amigo Joe Crann, jornalista inglês que trabalha para o semanal Soccer Laduma. Porém, entrei pela porta errada e dei de cara com o técnico da África do Sul, Shakes Mashaba, tirando foto com fãs. Claro que eu não deixaria passar em branco a chance de registrar um momento tão surreal.

Técnico da África do Sul, Shakes Mashaba - Durban, 2014
A foto com o técnico da África do Sul, Shakes Mashaba.

Em seguida, fui para a torre certa, onde o Joe me esperava no saguão. Enquanto conversávamos, os jogadores sul-africanos começaram a passar, indo para o ônibus.

Antes de me despedir, perguntei ao meu amigo se ele iria fotografar ou cobrir o jogo das tribunas. Ele respondeu que faria fotos, mas o cara que cederia a câmera havia sumido. Resultado: emprestei a minha humilde Canon e voltei pro hostel com imagens registradas na beira do campo.

Estádio Moses Mabhida

Do hotel, peguei um Uber para o estádio. E a entrada foi bem tranquila. O preço popular do ingresso (80 rand, cerca de R$ 20) ajudou a atrair um bom público ao Moses Mabhida, algo raro no futebol sul-africano.

Uma coisa que chamou a minha atenção em Durban foi o número de crianças batendo uma bolinha pela rua e em espaços ao ar livre. A paixão pelo futebol me pareceu mais forte ali do que em Cape Town. Talvez isso também explique o número de torcedores no jogo.

Jogo de futebol em Durban, África do Sul

Já o público refletia a diversidade que eu havia notado no voo para a cidade. Por isso, mesmo usando uma camisa do Brasil, passei despercebido.

Quando bateu a fome, resolvi conhecer a comida de estádio sul-africana. Não arrisquei muito e optei por um cachorro quente de boerewors, uma linguiça bem temperada. Enquanto estava na fila, perguntei pro cara da frente como era esse hotdog, ele explicou, e aí começou uma conversa sobre futebol. O papo evoluiu para Messi, Brasil, 7 a 1. Resultado: acabei assistindo ao jogo com uma família muçulmana.

Rolou o melão

A arquibancada tinha virado uma grande festa. Muita gente fantasiada. Desde chapéus grandões a homens vestidos de mulher, como no Bloco das Piranhas. Havia também muitos cartazes com a foto do Senzo. Ah, e preciso mesmo falar das vuvuzelas?

Sim. Elas não pararam nem durante o minuto de silêncio em memória do goleiro. Felizmente, respeitaram o belíssimo hino nacional sul-africano, que inclui estrofes em cinco idiomas. Fiquei observando todo mundo cantando e pensando em como aquilo era significativo. Um dos momentos mais lindos da viagem.

Quando a bola rolou, me surpreendi com a qualidade do jogo. A África do Sul apresentava um futebol ofensivo, com boas trocas de passe. Um nível bem superior ao das partidas do campeonato nacional que eu havia assistido em 2011.

No entanto, achei a cornetagem excessiva. Em um momento, fizeram aquele gesto de substituição para Tokelo Rantie, o melhor atacante dos Bafana. Minutos depois, o cara marcou um gol.

Joe Crann - Bafana Bafana - Durban
Meu amigo Joe Crann e eu após o jogo

É vaia?

Quando o volante Dean Furman – capitão naquele dia e único branco entre os jogadores de linha – pegava na bola, ouvia-se um ruído por todo o Moses Mabhida. Vaia? “Não”, explicou o garoto de 11 anos da família que me adotara.

“Eles estão gritando ‘mlungu’, que significa ‘cara branco” em zulu”, disse o fã de Messi.

Dono de alguma técnica, Furman parecia ser amado pela galera e fazia sua primeira partida com a faixa de capitão dos Bafana Bafana. De quebra, foi um dos melhores em campo na vitória de 2 a 1 sobre o Sudão, resultado que classificou a África do Sul para a Copa Africana de Nações de 2015.

Saí do estádio olhando para o arco externo. Era ali que eu estaria no dia seguinte, vivendo uma das grandes loucuras da minha vida.

Rapidinhas

– Não diria que o Moses Mabhida tenha virado um elefante branco. Mesmo que os jogos do AmaZulu não lotem o estádio, o local se mantém movimentado. Sua área externa conta com restaurantes e escritórios de atividades turísticas, como o swing jump, aluguel de bicicletas e tour de segway.

– Sem falar nos grandes shows internacionais, que agora não ficam apenas no circuito Joanesburgo-Cape Town. No dia seguinte ao jogo, começou a montagem do palco do John Legend.

Estádio Kings Park - Durban, África do Sul
Kings Park, tradicional palco do rugby na África do Sul

– Aquela área da cidade respira esporte. Próximo à praia, o Moses Mabhida também fica ao lado de um estádio tradicional de rugby, o Kings Park, e um outro de cricket.

– Por isso, a região é fundamental no projeto olímpico de Durban, provável candidata a sede dos Jogos Olímpicos de 2024.

– A candidatura ganha força com a escolha da cidade para sediar os Commonwealth Games de 2022, uma espécie de Pan disputado por nações que faziam parte do Império Britânico, além de Moçambique e Ruanda.

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